quinta-feira, 10 de junho de 2010

A parábola do cisco e da trave

Jesus se serve dos recursos da parábola do cisco e da trave com objetivo ético-comportamental (Lc 6:39-45). De modo simples e direto, Ele ilustra a obrigação de se imitar a misericórdia e a gratuidade do Pai (Lc 6:36), à semelhança do discípulo que há de ser igual ao Mestre (Lc 6:40), e confirma a impossibilidade de julgar e condenar (Lc 6:37), pois tal atitude se assemelharia a do hipócrita que não tira a trave do próprio olho para ver o cisco do olho do irmão (Lc 6:42).
Nas relações dos homens entre si e com Deus, o que conta é a atitude interior (2ª Co 13:5). Esta, todavia, não pode ser percebida sem a corporeidade, ou seja, sem levar em conta a linguagem corporal, especialmente, mediante as palavras: "pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Lc 6:45b).
O sentido figurado de coração, na Bíblia, aponta para o interior do homem. Além dos sentimentos (2º Sm 15:13 ; Is 65:14), inclui as recordações, as idéias, os projetos e, sobretudo, as decisões. É o lugar simbólico no qual o homem dialoga consigo mesmo para assumir responsabilidades (Dt 7:17). Por isso, para Jesus, o homem bom do bom tesouro do seu coração tira o que é bom, mas o mau, de seu mau tira o que é mau (Lc 6:45).
Pessoas ardilosas são capazes de usar as palavras para encobrirem seus sentimentos (Pv 26:23-26). Mas, suas verdadeiras intensões serão reveladas por meio dos frutos (Mt 7:16). Jesus disse que, "não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas" (Lc 6:43,44). Com efeito, por mais que os comportamentos dissimulem as intenções, o tempo se encarregará de demonstrar, pelas ações e suas consequências, a verdadeira intenção das pessoas. Em última análise, porém, cabe ao próprio Deus que não olha a aparência (1º Sm 16:7) perscrutar o coração e sondar os rins (Jr 17:10).
Deus é o único que pode julgar e avaliar as ações dos homens (Hb 4:12,13 ; Dn 2:22). Além disso, seu olhar perscrutador põe-nos de sobreaviso quanto à justiça de nossos julgamentos. Nós, cristãos, não podemos captar integralmente o coração do outro, mesmo quando se exterioriza na aparência de atos bons ou maus. Mas, mesmo que pudéssemos conhecer o interior do próximo, sendo pecadores como somos, qualquer juízo moral sobre a vida alheia nos remeteria às palavras de Jesus: "Por que olhas o cisco no olho de teu irmão, e não percebes a trave que há no teu?" (Lc 6:42).
Os escribas e fariseus eram escrupulosos com cada detalhe dos preceitos - os rituais de limpeza dos utensílios e móveis, o pagamento do dízimo sobre a hortelã e o anis, e ao mesmo tempo, sem nenhum peso na consciência enganavam, odiavam e ofendiam pessoas (Mt 23:1-23). Assim eles chegaram a um engano, a uma ilusão tal que condenaram o Salvador do mundo à morte na cruz e publicamente difamaram a sua ressurreição.
Em Cristo,

               Tarcísio Costa de Lima 

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