terça-feira, 8 de junho de 2010

A parábola dos trabalhadores da vinha

          Dentre as diversas parábolas de Jesus, algumas são de fácil compreensão, como a do semeador (Mt 13:1-9) ou a do bom samaritano (Lc 10:25-37), que o próprio Senhor explicou aos discípulos (Mt 13:18-23). Outras, porém, trazem dificuldades interpretativas consideráveis, exigindo cuidadosa análise sobre o conjunto da doutrina cristã para que um sentido razoável seja alcançado.
          A chave para interpretar corretamente a parábola dos trabalhadores da vinha deve ser buscada na passagem com que se encerrou o capítulo anterior. Lá encontramos o ap´stolo Pedro fazendo a nosso Senhor uma pergunta importante: "Nós tudo deixamos e te seguimos: que será, pois, de nós?" (Mt 19:27). Recuperando o questionamento feito por Pedro, Mateus deseja apenas chamar a atenção para as consequências de uma decisão tomada, e não impor condições ao seguimento. A parábola da vinha expressa a generosidade de Deus, que acolhe em seu Reino os trabalhadores que chegam por último no serviço (Mt 20:8-16). É Deus quem paga seus trabalhadores com generisidade e misericórdia, superando a ideologia farisáica, na qual o valor da ação humana precede o dom de Deus (Ef 2:8-13). A parábola mostra que o Reino não é algo que se compra ou que se merece (1ª Tm 1:11-16).
          Comparada aos nossos dias, a parábola dos trabalhadores da vinha bate de frente com a ética do mercado da qual somos vítimas e que rompem com as leis de equidade (1ª Tm 6:1,2). Os desocupados da época podem fazer alusão indireta aos desempregados de nossos dias (Mt 20:3). Caracterizada pela incerteza, pobreza, desnutrição, fome e pelo trabalho pesado, estas pessoas carregam o peso da injustiça social (Am 5:11,12). Por isso, o ponto forte da parábola está no ajuste de contas ao final do dia. Todos são chamados a acolher, construir e habitar no Reino (Ec 9:10 ; At 1:8).
          A imagem da vinha assinala o caráter vocacional da igreja, indicando a comunidade dos seguidores de Jesus comprometida com sua Pessoa, sua causa e a vivência do mandamento do amor (Rm 13:8,11 ; 1ª Co 16:14). A "vinha" também aponta a Igreja, comunidade dos salvos que caminham em comunhão com Jesus, trabalhadores que formam a comunidade de amor, independentemente da hora do chamado e do envio (Mt 20:8-16). Os diferentes grupos de trabalhadores enviados para a vinha indicam o corpo dos servidores da missão evangelizadora. Cada um é chamado a dar a sua contribuição na diversidade e riqueza da Igreja, em comunhão de ministérios e serviços. Todos são chamados e enviados em grupos e nunca isoladamente, evitando assim um comportamento individualista (Lc 9:1,2 ;10:1). Vê-se aí a dimensão comunitária do serviço missionário (Ec 4:9-12).
          Em Cristo,

                           Tarcísio Costa de Lima

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