sexta-feira, 11 de junho de 2010

A parábola do trigo e do joio

As parábolas que Jesus ensinou junto ao Mar da Galiléia (Mt 13;Lc 8;Mc 4) destinavam-se a definir o reino de Deus. Mas estas histórias e comparações tinham o efeito contrário sobre aqueles cujo coração tinha sido dominado pela religião superficial dos escribas e fariseus. Especialmente na parábola do joio e do trigo, vemos que há certa ausência de ênfase na providência de Deus. Ele é completamente justo, bom e poderoso. Mas, às vezes, ficamos inculcados porque Deus permite que a impiedade campeie pelo mundo.
Se o reino de Deus é de absoluta justiça, como pode existir tanta impiedade entre os homens? Esta questão é, realmente, apenas a extensão de um assunto mais fundamental que tem deixado o homem perplexo durante séculos: como pode haver mal num mundo governado por um bom Deus? Por que Ele simplesmente não elimina os indivíduos de má índole (os joios) e torna tudo maravilhoso?
A história do joio semeado no campo (Mt 13:24-30,36-43) segue imediatamente após a parábola do semeador. Nesta, Jesus já havia sugerido que a justiça (o solo bom) terá de florecer num mundo onde muitos rejeitam o reino de Deus (o solo da beira do caminho) e outros a receberão de modo superficial e infrutífero (solo pedregoso e espinhoso). Na história do joio Jesus parece recomeçar por onde parou na parábola do semeador, para tornar explícito o que antes fôra apenas sugerido.
O reino do céu é destinado a abrir o seu caminho num mundo onde o mal não é somente ativo, mas continuará a sê-lo enquanto o homem habitar este planeta (2ª Tm 3:1-9). Para muitas pessoas, o reino do céu não terá vindo até que toda a impiedade seja destruída (2ª Ts 3:1-3). Contudo, o reino virá pelo paradoxo que o reformador Martinho Lutero chamou de "a mão esquerda" de Deus: dando para ganhar, perdendo para vencer, morrendo para viver (2ª Ts 2:7-13).
Nossa reação imediata à parábola do trigo e do joio poderia ser, "que tipo de lavrador é este, descuidado de manter as ervas fora de seu campo, dormindo quando deveria ter estado alerta?" (Mt 13:25). Mas o lavrador desta parábola não é um homem negligente que não fez nenhum esforço para manter seu campo livre de ervas, passando seus dias dormindo quando deveria ter sido consciencioso (Tg 5:7). Seu trigal é forte. Ele dormiu somente quando os trabalhadores dedicados dormem: de noite. O problema é que o inimigo não pára de semear o mal (Ap 12:12 ; 1ª Pe 5:8,9).
O joio, ao brotar, é muito parecido com o trigo e arrancá-lo antes de estar bem crescido seria inconviniente, por razões óbvias. Na hora da produção dos frutos, em que será feita a distinção entre ambos, já não haverá perigo de equívoco: será ele, então, atado em feixes para ser queimado (Mt 13:29,30). Quando os tempos forem chegados, todos os sistemas religiosos que se hajam revelado intolerantes e opressores, serão reduzidos a nada (At 5:36,37).
O joio sempre será encontrado no meio do trigo. Hipócritas e enganadores se infiltrarão sorrateiramente no meio do povo de Deus. Há uma profunda verdade na declaração de Agostinho: "Os que hoje são joio, amanhã poderam ser trigo". Se Deus transformou em trigo a Manassés, que sacrificou seus próprios filhos aos deuses, consultou feiticeiros e fez pecar o povo de Israel, certamente, poderá transformar outros joios (2º Cr 33:1-13).
Em Cristo,

                Tarcísio Costa de Lima  

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